quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Visita Hospitalar








Flor do lixo
poesia ao ser que ali existo
deixo na cabeceira
letras sem cor e leveza
colocadas ao vaso duro dessa vida
ao lado de tua cama

Visito o outro eu
o você tido idoso
meu pai 
minha mãe
câncer na cama 
horóscopo não lido

Outubro rosa nuclear
hospital  Fukoshima da esquina
um mundo Chernobyl  alegria
dizendo boa tarde

Observo espaço
lençóis do enjoo 
travesseiro fofo em ardência
um quarto de vida
alucinação química
um açúcar dublê 
adoçante ser 

Coquetel terapia
droga endorfina acabando no pote
biscoitos ranços com café pós moderno
uma imensa vontade de nada
tic tac relógio visita
alarme vida
desperta nossa dor

Corredor da ala lanchonete
linfoma ou gástrico 
prato de sopa leucemia
compramos um cachorro quente já frio

Seio arrancado esperança extirpada
bisturi na goela da fala amorosa familiar
Tv no quarto ligada exibe comercial
um governa a chamar de seu

Saco de lixo nas terças
setor lixeira hospitalar área cirúrgica
 a vida em colo do útero a te ninar
bagaços a postos mexidos
sendo a massa de carne do açougue sujo
jogando fora teu carinho
o quilo na manobra lucra ao gordo banqueiro
embrulhado para viagem 

Ida da vila ala vala pública
dinheiro no caixa 
música toca suave
faxineiro trabalha
assepsia que brilha
fio frio da navalha
hospício hospital

Manifestantes do lado de fora são humilhados
vestidos com sarcoma de kaposi
quebrando vidrinhos e latas 
polícias da cabeça polida dançam cassetetes 
jogam suas bombas de chocolate doente
são soldados com chip triste na cabeça
tudo isso aos pés desta  enfermaria
o cárcere quente convida
jogos de carta e ódio 
governantes sorriem seus robôs 
roubos nesta luz do dia
escuridão do país maravilha

A doença é uma novela
aliena cérebros doces
mulheres e filhos desenhos desanimados
maternidade da mágoa ao lado

Câncer cidade vírus
excessos da depressão ferida
compre um emprego maneiro
vire trabalho
escravize liberdade
lucre carcinógeno  

Hora do jantar amargo
enfermeiros e médicos queridos do além 
alimentos contaminados todos nossos e bonitos
há um balanço e escorregador nessa praça madrugada
caminho da antiga casa em obra transgênica 
milhos e arrozes do tumor

Vento radioativo é tarde
fim da visita
pseudo velhice bate na porta
não és mais ninguém










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