sexta-feira, 20 de abril de 2012

Overdose





Estou completamente drogado
ficando muito louco
nessa dopada realidade

Cápsulas de pão e circo
pela goela abaixo

Os governantes me deixam insano
causando esquizofrenia 
dizem ajudar o povo
eu acredito e fico tolo

Fumando religião
bebendo igrejas

Estou totalmente entorpecido
alucinado pela sociedade
agora a onda bateu em mim

Sigo cheirando serviços públicos
fico petrificado pré ataque do coração

Vou inalando a falta de saneamento
tomando um porre de escola pública sucateada

Todos os dias
picos na veia de Tv ligada

Eu estava estudando
agora estou no trabalho
para me tornar o nada
viver pelo vazio
 ser ninguém

O entorpecente vêm todo dia  
entregue em casa ou na rua
subindo o morro ou andando na favela
pelas esquinas e suas frestas

Eu gemo baixinho
caio na calçada
uma overdose social



terça-feira, 3 de abril de 2012

Namorada




Eu namoro a tristeza
é uma menina feia
ela não toma banho
muito menos eu

Jantamos e almoçamos juntos
todos os dias
a fome posta a mesa

Já temos vários filhos
a depressão
a angústia
a pobreza
e o isolamento

Sua beleza
cor de sede

Ela me liga todo dia
para saber como estou

Me ama e não me deixa
largado pela frias avenidas

Nossos orgasmos
escorrem lágrimas

Dormimos sempre juntinhos
acordamos no mesmo horário

No mês que vêm
vamos nos casar

Cama caixão sepulcral

Vida assim indignada
abençoada pelos inimigos

Ah que infelicidade
o desgosto que envolve
os beijos e afagos nulos
a sensação da presença
nesse quarto escuro

Tristeza!







O relógio



O medidor com seus números
atravessa a vida
cortando como faca afiada

O calendário se desfaz
na medição do resto
viramos rejeitos
e o relógio continua
aos que chegam

O  tic tac
que  bate
espanca o corpo
em minutos
horas e segundos

A vontade de ir embora
vêm quando nasce

O capitalismo bate a porta
ele é o dono do relógio
não mais o próprio tempo

Os anos vão passando
coelho veloz
a velhice está em cima 

Hora de colher a falta
ser surrado e preso
 tempo estuprado

Cronologicamente vida perdida
nas horas subtraídas
que se passa triste 

O tempo
que seja presente e passado
fica sempre sem futuro

Ponteiros maiores empurram 
o tédio e o medo para o cotidiano 

Os menores destroem 
a alegria do dia
nessa única vida

O do meio reparte
os vazios

De um a doze
24 horas
o que é seu 
é roubado

Desperta a dor
acorda para sofrer
assim os centavos surgem
junto das migalhas de vida